sábado, 8 de março de 2008

Chicago: Uma montagem de sucesso que se reinventa, mas não perde sua essência

Enquanto, nos meados da década de 1920, um renomado repórter do jornal Chicago Tribune chamado Maurine Watkins cobria surpreendentes fatos criminosos e hercúleos julgamentos de jovens que matavam seus cônjuges ao se embriagarem com os vícios de uma nova sociedade em construção no século XX, vinha aos poucos em sua mente aquilo que seria um dos maiores clássicos do teatro moderno. Em 1926 foi produzida a primeira versão do que conhecemos hoje por “Chicago – O Musical” , com o título de “The Brave Little Woman” já arrebatando um considerável número de críticas positivas. A história de uma bela assassina em busca da fama iria para as telonas em duas oportunidades: num filme mudo de 1927 com o título mais conhecido “Chicago” e no ano de 1942, sendo estrelado pela diva Ginger Rogers, com o título “Roxie Hart” (nome da personagem principal da trama).
Contudo, quase 50 anos depois da primeira versão teatral de “Chicago” , John Kander, Fred Ebb e Bob Fosse (monstros sagrados da história dos musicais) adaptaram e coreografaram aquele texto profético e atemporal. O ano era 1975 e a Broadway nunca mais seria a mesma depois de conhecer a história de Roxie e Velma Kelly (Gwen Verdon e Chita Rivera). Esta versão não duraria muito, já que teve de enfrentar as mazelas trazidas pela Guerra do Vietnã e o escândalo do Watergate sobre a arte popular.
A principal marca de “Chicago” é a sensualidade e o sinismo que se encaixam muito bem como crítica ao rigoroso e concorrido mundo da fama que conhecemos. Roxie Hart é uma menina “ingênua” que sonha em ser uma vedete de um cabaré no subúrbio da cidade de Chicago. Mesmo casada com Amos Hart mantém um relacionamento extraconjugal com Fred Caseley, na promessa de substituir Velma Kelly no posto de diva. Velma havia sido presa por assassinar seu marido e sua irmã (e companheira de palco) em adultério. Depois de descobrir que toda história de Fred é mentira Roxie o mata e acaba indo parar numa prisão feminina encontrando inúmeros casos como o seu. Encontrando a própria Velma, inclusive. Dentro dessa prisão encontramos personagens que transbordam corrupção como Mama Morton, a chefe da carceragem, que sobrevive na base do “Toma lá, dá cá” com as internas. Billy Flynn, advogado número um da cidade, também não foge à regra de corrupção e usa da ironia e de seu carisma para inocentar “suas” garotas e assim tirar vantagens financeiras. Ainda tem uma mulher rica que mata seu marido e duas amantes, mentiras sobre gravidez e diários violados. Arrematando tudo, vale ressaltar, que a única inocente é mandada à forca. A peça tratava toda essa trama com a interação musicada dos personagens.
Depois de passar algumas décadas “Chicago” voltou aos palcos da Broadway em 1996 e está em cartaz até os dias de hoje. Ainda com uma das maiores bilheterias da casa de espetáculos. A peça coleciona alguns Tony’s a premiação máxima das artes dramáticas em teatro dos Estados Unidos.
No ano de 1994, a Miramax Films comprou os direitos para levar às “telonas” o grande sucesso. Foram anos de testes e projetos, porém sem nenhum sucesso e continuação. Só no início dos anos 2000 foi que a produtora conseguiu encontrar uma forma adequada de apresentar a história ao público nos cinemas. E esta missão foi dada a Rob Marshall, um veterano em produção de musicais, no teatro. O filme só ficou pronto em 2002.
A principal mudança, fundamental para o sucesso da nova versão de “Chicago” foi mudar o foco das narrativas musicais. Deixaram de ser ações do cotidiano (pouco imagináveis no dia-a-dia) e tornaram-se frutos da imaginação da ambiciosa protagonista, que passou a viver num mundo paralelo, onde os principais acontecimentos de sua vida eram números musicais extraordinários.
A última versão cinematográfica de “Chicago” deu outra vida a essa história clássica, o que fez dela cada vez mais mutante e atual. Algo que acontece atualmente e até com bastante freqüência. Além de se auto-afirmar, a produção adaptada para o cinema consolidou a volta dos musicais filmados e reascendeu outros clássicos, como “O Fantasma da Ópera”, “Rent”, “Hairspray”, “Dreamgirls: Em Busca da Fama”, dentre outros. Também fez com que descobríssemos novos talentos nesta forma de arte fazendo com que ela se reinventasse.

Fonte da foto (Google)

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