domingo, 9 de março de 2008

“Desmundo”: Retrato fiel de um destino cruel


Você já pensou como seria a vida de nossas antepassadas portuguesas no século XVI aqui no Brasil? Se imaginou um paraíso repleto de belas paisagens, heróis, vestidos luxuosos, criadas nativas fazendo se tornar realidade todos os seus caprichos, esqueça de vez. A realidade dessas mulheres que foram obrigadas a cruzar o Oceano Atlântico para servirem de meros objetos procriadores no “Novo Mundo” é retratada de forma singular no filme de Alan Fresnot, “Desmundo”. O drama conta a história de Oribela (Simone Spoladore), uma jovem órfã lusitana trazida às terras recém descobertas para servir de escrava sexual e “colaborar” com o processo de povoamento do Brasil. Casa-se, contra sua vontade, com Francisco (Osmar Prado), um homem rude que a enclausura em seu mundo e a submete a inúmeras barbaridades, pelo simples fato de achar que é seu dono. Em busca da tão sonhada liberdade Oribela encontra o comerciante Ximeno (Caco Ciocler) e vê, em seus olhos, não apenas a chance de voltar a sua amada Portugal, mas também um amor inesperado.
“Desmundo” é uma história envolvente que prende o espectador até o fim. Porém se engana aquele que aposta simplesmente nesse fator para considerar o filme como de boa qualidade. O que verdadeiramente chama a atenção na película são os riquíssimos detalhes, que nos insere inteiramente nesse capítulo da nossa história, levando ao espectador muito mais que entretenimento, conhecimento (a crueza dos hábitos dos colonos chama mais atenção do que as cenas de sexo, imaginem só!). Poucos trabalharam com tanta propriedade a realidade da colonização brasileira.
A equipe de produção e execução trabalha impecavelmente os figurinos, os cenários, o retrato do cotidiano, todavia o mérito mais considerável dentre eles cabe aos roteiristas. O roteiro foi escrito com um linguajar colonial fidelíssimo, tanto que é preciso acionar as legendas para compreender o enredo do filme. Único.
Contando ainda com a brilhante união de um elenco de grandes estrelas como Osmar Prado, Simone Spoladore, Caco Ciocler e Beatriz Segal (¡Adiós! Odete Roitmann) e atores do círculo “alternativo”, que vieram do teatro, de grande talento, como Débora Olivieri e uma digerível atuação de Cacá Rosset. “Desmundo” tem tudo para derrubar o mito de que aqueles tempos eram melhores, principalmente para as mulheres.
Nas melhores locadoras!

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